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CORAZÓN DEL SONIDO CURADOR

Em outubro de 2016 Igor Alegoria capitaneou uma expedição brasileira à Montaña que Canta, em Carhuaz no Peru, para vivermos juntos dias inesquecíveis com o maestro Tito La Rosa e sua família. Tito um descendente de índios Quechua dos Andes peruanos tem ao longo dos últimos vinte anos estudado, preservado e difundido a música, as cerimônias e os sons curadores ancestrais andinos. Com ele tivemos a chance de sermos conduzidos a lugares, paisagens, notas, harmonias e histórias que tocaram fundo em nosso Ser. Uma oportunidade única e curadora embalada pelo som do coração, o som do mestre Tito la Rosa.

Maetro Tito La Rosa

Maestro Tito La Rosa em concentração para o início de uma sessão.

Tito é uma maestro do mundo mas suas raízes são de Carhuaz, uma pequena cidade que fica encravada entre a cordilheira Branca e a Negra dos Andes peruanos. Foi lá, na sua casa de família, que nossa viagem começou.

A sala dos abuelos e abuelas

A sala dos abuelos fica num dos cômodos da casa do maestro em Carhuaz, uma sala que e é como um templo, um pequeno museu. Uma sala de muitos altares onde são reverenciados seus antepassados, a grande Mãe, o Pai e cada um dos instrumentos ancestrais peruanos. Uma sala de devoção, de conexão com cada um dos elementos e com Pacha Mama.


"O Divino na nossa tradição existiu na medida que se relacionava.

Se relacionavam o Divino, a natureza e os humanos e tudo se relacionando formava a unidade".

- Tito la Rosa

Flautas de ossos

O batismo de flores

Depois de dois dias em Carhuaz subimos para a Montaña que Canta - que é um ashram e fica mais perto ainda das cordilheiras. Lá com Tito trabalhamos intensamente e fizemos várias cerimônias ancestrais peruanas.

Uma delas foi o batismo de flores, ou cha'lla de flores, que é uma cerimônia que nos vincula com a essência da natureza e do divino. É uma benção, uma boa ação, que nos coloca diante do belo, do próspero e do que há de melhor em cada um de nós. É um mergulho ao interior onde entramos em contato com o que de nós ficou esquecido por tempo de mais.

Oferenda das flores

Entramos em contato, observamos, vamos ordenando e reordenando ao fazer o trabalho com as flores que pouco a pouco vai ganhando forma e limpando nosso coração.

Flores

A mandala de flores.

O rito segue e Tito vai tocando um instrumento específico para cada um dos participantes. Quando acaba abençoa um a um com uma chuva de flores.

Luiz Duva

Oráculo dos abuelos

Outro trabalho que fizemos foi o do oráculo dos abuelos, oráculo de símbolos da tradição ancestral peruana e de símbolos que Tito foi encontrando ao longo da sua jornada. Dá uma mensagem atemporal, uma mensagem desde os símbolos, uma mensagem para o seu momento de vida. O oráculo não te diz o que fazer mas abre as portas para que você e o símbolo possam se relacionar neste ciclo da sua vida. Você abre a 'mesa', o jogo, e Tito lê as peças, os símbolos que caem em cada uma das quatro direções sagradas.

Oráculo dos abuelos de Tito La Rosa

O oráculo dos abuelos esperando ser 'aberto'.

Oráculo dos abuelos

E o que saiu para mim.

"Renasce desde o vazio".

- Tito la Rosa

"Luiz através do som busca a tua essência e

também desperta a essência nos outros".

- Tito la Rosa

O trabalho das 9 portas da

Escola Peru Del Sonido Curador

Antes de iniciar essa cerimônia o maestro Tito nos explicou o que é a Escola Peru.

"A Escola Peru é um grupo de curadores sonoros, de homens medicina, de mulheres que leem o oráculo e da minha maestra ayahuasqueira Amélia Panduro. Um grupo de pessoas que foram me alimentando e formando essa proposta de cura sonora através das nove portas".


Nove portas pelas quais Tito passa e vai nos conduzindo através do som curador. São nove etapas, cada uma com seu instrumento específico, partindo do silêncio rumo à essência, numa viagem interior para se abrir e purificar o coração.

Instrumentos de Tito La Rosa

Os instrumentos musicais utilizados por Tito no trabalho das 9 portas.

As 9 portas são:

1. A do silêncio - que é a mãe do som.
2. A do Pututo ou concha de caracol - que abre a cerimônia, evoca e pede licença.
3. A do vaso Cantante e da Antara de cerâmica - para viagem interior rumo à essência.
4. A da Mama Quena - que trata da relação com a Mãe, com sua origem.
5. A da flauta do Amor - para se abrir o coração.
6. A da flauta do Abuelo - que conecta com o masculino, com suas raízes e identidade.
7. A das penas de Condor,  Chacapa ou Antara de plumas - para purificação.
8. A do Charango e da Kalimba - que cura pelos harmônicos e comunica com o divino.
9. A da flauta dos Hemisférios - para equilíbrio dos opostos e começo do retorno à casa.
E por fim, Tito usa o tambor Xãmanico ou uma flauta Lakota para trazer de volta e aterrar os participantes.


Entre uma e outra porta Tito toca uma tigela de metal ou de cristal alquímica que faz a ponte entre todas as etapas do trabalho.

Tigelas Sonoras de Luiz Duva

As Tigelas de Metal do Himalaia.

Oferenda à Pacha Mama

A última de nossas cerimônias foi uma oferenda à Pacha Mama. Um ato de entrega, de desprendimento profundo, um fazer algo à alguém e à todos sem querer nada em troca. Uma retribuição ao que de maior nos foi oferecido, a nossa própria vida.

Cordilheira branca Perú

Pacha Mama e suas divinas formas vistas a partir da Montaña que Canta - Carhuaz, Peru.

"Por isso despreende-te e entrega o melhor de você em cada situação. 
Isso é reciprocidade, é AYNI, uma lei universal".

- Tito la Rosa

A oferenda é uma ação de reciprocidade, AYNI. Fazemos uma oferenda porque necessitamos devolver o que recebemos e é por isso que rezamos, cantamos e tocamos durante a cerimônia. É por isso que oferecemos nossos dons e o que temos de mais precioso, representado pelos grãos e pelas flores - para Pacha Mama, para a mãe Terra.

"Antes de encerrá-la vamos contemplá-la. 

Ver sua forma, sua expressão que é uma expressão de vida".

- Tito la Rosa

Em nossa oferenda agradecemos tudo o que tínhamos recebido não só nessa viagem mas também em toda nossa vida. Agradecemos e seguimos rumo ao topo da Montaña que Canta para enterrá-la e finalizar a nossa jornada.


Seguimos em silêncio, seguindo os passos do maestro curador que ia a frente nos mostrando por onde seguir e nos animando com seu Charango.

Montanha que canta

O topo da Montaña que Canta com as casas do ashram lá em baixo à esquerda.

Chegando lá no topo rezamos, cantamos, fizemos a oferenda e nos abraçamos. Ficando em silêncio por alguns instantes antes de voltarmos para o lugar do qual havíamos partido, um lugar, que assim como nós, já não existia mais.

Gracias madre Tierra, gracias a la vida, gracias a usted maestro querido.


Y muchas gracias aos meus hermanitos queridos: Igor, Carla, Ada e Diana.


Namaste.


_/\_

# fotos de Igor Alegoria e Luiz Duva.

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