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IV Encontro Pensamento e Reflexão na Fotografia, 2015.



Texto por Manuela Rodrigues


A pesquisadora, crítica e curadora Chris Mello inicia a primeira parte de sua fala, refletindo sobre o tema desta edição, especialmente em relação ao montar, e nos convida a refletir em que medida hoje não estaríamos muito mais "deslizando", na tela, no corpo, no tato, gerando uma perceptividade muito maior para o que chamávamos de montagem.


Ela propõe que pensemos no processamento de imagens em movimento não só a partir do plano da visualidade da fotografia, mas também do plano da conectividade, do “ao vivo”. E que ao falarmos de fotografia devemos ter em mente a fotografia expandida. Da imagem que transita nesses territórios alargados que se situam na fronteira da fotografia com outras linguagens, no que não é especifico da fotografia.

"Isso é o que mais interessa, o momento em que a fotografia é mais pensamento, que possibilita e traduz as práticas descentralizadas em meio as novas mídias."

Para aprofundar essa ideia, Ela traz algumas reflexões sobre a ampliação dos meios, a partir da visão das extremidades, em 3 procedimentos:


1. Desconstrução — procedimento de ordem experimental por natureza, a busca por desconstrução dos códigos clássicos, que associam a teoria da imagem a documentação, a veracidade. Revelando assim novas facetas em experimentos com imagens.


2. Contaminação — pensar de que modo os meios estão contaminados entre si, fazendo com que surjam novos pensamentos e nova imagens. Por exemplo, quando a fotografia vai para o cinema, para o vídeo, a instalação, a cidade e diversos âmbitos.


3. Compartilhamento — pensar a fotografia como arquivo, banco de dados, e mais ainda como arquivos que circulam na rede, que deixam de ser offline e passam a ser online.


Chris também fala que podemos pensar esse momento em termos de linguagens híbridas (embora para ela sempre foram híbridas, e nós é que as organizávamos de formas específicas). Ela dá como exemplo o surgimento da linguagem do cinema, no filme "O Homem da câmera", que trata dessa passagem da fotografia para o movimento da imagem, da saída da imobilidade, para a duração, intervalo, sequência, ritmo, etc.


Na segunda parte da fala, analisa o trabalho de Luiz Duva, que segundo ela já pode ser tratado com “distanciamento”, já que foi produzido a mais de 10 anos — tempo que segundo um amigo é o necessário para a análise crítica.


Na vídeo instalação "Retratos in motion: o beijo ", um tríptico onde Duva buscou reaver a sensação da memória desse ato, as imagens surgem de uma série de auto-retratos digitais, as famosas "selfies", criado pelo artista como escritura íntima presente em seu cotidiano, com o desejo de redimensionar a duração do beijo.


Nesse trabalho, ele faz uma manipulação ao vivo, com o interesse de recuperar o sentimento, mas conclui que além disso gerou um movimento com forte carga de subjetividade. Um tipo de dupla ação da ação amorosa, entre o estático e o movimento, entre o móvel e imóvel, entre experiência da fotografia e a videografia.


Portanto para Chris, ele não nos oferece a interpretação do beijo, mas sim sua sensação, por isso desloca o plano tradicional da imagem, e nos coloca dentro do beijo, no "entre", no vibratório e intensivo. Não só através dos processo de montagem, mas também através do ambiente da instalação, com luzes, que ativam vibrações no corpo do visitante, como o próprio beijo geraria.

Não basta fazer as imagens se moverem é preciso ainda constituir movimentos capazes de traduzir qualidades sensoriais como as encontradas na duração de uma ação amorosa, ou do nosso corpo no espaço.

Luiz Duva


Em sua trajetória Luiz Duva, passou pela produção de imagens de ficção, mas sempre com um questionamento narrativo e tendo a montagem como base do trabalho, como ele mesmo disse: "sempre criando a imagem e esculpindo a imagem."


Em sua fala conta como paradoxalmente, o acesso que teve ao vídeo o trouxe um fascínio pela imagem parada, que descobriu na timeline da edição de vídeo. E isso acabou o levando a uma relação com a fotografia.

"Passei a entender a imagem parada como potência, sobretudo pelo impacto que a imagem causa simplesmente por existir."

No entanto não chegou a migrar completamente para a área da fotografia. Passou a trabalhar com o conceito de "live cinema", de montagem ao vivo, muito influenciado pelo movimento Vídeo Music que buscava tradução do som em imagem. Embora para ele montagem em tempo real é um paradoxo, pois na verdade é o nosso cérebro é que entende como tempo real, já que não conseguimos assimilar a rapidez da sequência de imagens paradas, e isso nos dá a sensação de movimento.


Ainda sobre a montagem fala como desde a época de Vj ficou claro o quão emblemático era esse trabalho, pois não é só fazer vídeo, áudio, música, é mais, é fazer software, ensaiar e apresentar em tempo real para o público.


E quando Ronaldo faz uma pergunta sobre as diferenças de apresentação de seu trabalho em uma pista de dança e em um galeria, questionando se a busca por mais controle do trabalho não o levou a perder o contato com o público. Duva diz que seus movimentos na verdade foram motivados por esse contato, ou melhor para que o público pudesse ter cada vez mais contato com o trabalho.

"Comecei nas galerias, mas saí porque o trabalho era pouco visto. Na pista de dança eu vivia o trabalho, mas voltei a galeria pelo mesmo motivo, pois precisava de um espaço em que as pessoas estivessem 100% presentes."

Ao falar de suas obras mais recentes, o artista conta que já não trabalha nem o vídeo nem o som, e sim a luz. Explorando como a frequência das luzes interagem com o corpo. Pois para ele embora nos digam que temos apenas 5 sentidos, temos muitos mais, e portanto, a obra de arte também pode trabalhar com esses sentidos.


Com isso Duva conclui que o corpo passou a ser seu objeto de trabalho, e o movimento, passou a ser gerado em cada corpo a partir da experiência sinestésica diante da obra.



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