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Curadoria de Christine Mello. Galeria Pilar, São Paulo, Brasil.

Exposição Tormentas de Luiz Duva

Tormentas por Christine Mello.

Tormentas é a primeira exposição individual de luiz duVa (São Paulo, 1965). Constituída sob a forma de uma ocupação, ou um ensaio, é articulada especialmente para os espaços da Galeria Pilar.

A questão da tormenta revela muitas vezes modos com os quais nos sentimos vulneráveis diante do outro, de uma circunstância ou um ambiente dado. Ser vulnerável prescinde, portanto, da ativação de uma capacidade específica do sensível.

O tormento, um tema bastante relacionado na arte, coloca em xeque aquilo que não pode ser evitado, que exige contato. Convida-nos a sermos participantes ativos (ou coadjuvantes, desatentos) sobre aquilo que não nos é conhecido.  É como um convite à experiência. Pressupõe, portanto, um grande esforço do artista no sentido de reorganizar a atenção dos observadores.

Trazer o plano de envolvimento do outro quando se trata de colocar em contato uma turbulência não é fácil. Exige restaurar os sentidos, as potências do corpo, principalmente quando se está diante de um outro, ou uma sociedade, que na maior parte das vezes responde de modo defensivo quando se sente confrontada com aquilo que implica transe, desastre.

Enquanto o plano vulnerável dos sentidos abre portas para aquilo que é de ordem exploratória, o plano defensivo, involuntário, protege mediante a paralisação, a imobilidade e a insensibilidade.

Existe, no entanto, uma capacidade no corpo de explorar o mundo que nos deixa mais ativos, no sentido de mais vulneráveis ao outro e ao ambiente. Trata-se de uma espécie de perturbação indireta proveniente das fibras nervosas, dos tecidos da pele, dos músculos e dos pêlos. É a chamada sensibilidade háptica, que determina um contato real, físico, palpável, entre o sujeito e o mundo. Ela designa a pressão, a textura, a vibração e outras sensações relacionadas ao toque. É esta sensibilidade que possibilita uma forma intensiva de sensorialização do corpo no espaço.

Diante deste tipo de sensibilidade, que tem no corpo um lugar privilegiado de experiência, os trabalhos aqui reunidos de luiz duVa resignificam hoje estados de tormenta. Produzem contato com o outro por meio de deformações na paisagem, nas imagens e sons do vídeo, na arquitetura e na programação digital. Fazem isso no sentido de criar relações entre o plano contemporâneo das tormentas humanas e os modos como as mesmas geram afecções no corpo.

É como uma busca que o artista faz no sentido de ajustar o corpo do outro a centros difusos, a zonas de turbulência, colapso e vulnerabilidade. Suscita, com isso, não apenas tatilidade, mas também desconcerto, contraste, procurando não impor separações entre o sujeito e o ambiente sensório.

luiz duVa apresenta, desse modo, em Tormenta azul brilhante, na primeira sala da galeria – próxima à rua, como um cubo dentro de um outro cubo – um excesso de estímulos, uma fusão de sensações entre corpo, arquitetura, imagem e som, reconhecíveis em seus estados imersivos, entrópicos. Esse excesso de estímulos irrompe no observador um organismo sinestésico de intensidades, provocado no atrito existente entre corpo e linguagens digitais. Busca oferecer ao público um plano de sensações sobre a dimensão da tormenta que tenha a capacidade de afetar a sua percepção habitual, cotidiana. Invoca, assim, tormentas sentidas como corpo, luz e energia.

Já na segunda sala da galeria e no jardim, o artista apresenta – sob a forma de impressões sobre papel e um vídeo – certas tormentas que são como desdobramentos da anterior, sob a forma de distorções imóveis, como quietudes, como olhos do furacão, ou tensões calmas.

Ao relacionar o conjunto de obras, é possível observar que é por meio do diálogo entre diferenciados espaços de suspensão que luiz duVa empreende suas tormentas, táteis, multisensoriais, fruto de interações com o corpo, como cortes (i)móveis na aceleração do tempo. Mostra em seus trabalhos uma capacidade que o campo imagético possui hoje de ampliar a experiência sensória, promovendo dobras entre o dentro e o fora do corpo, como um sistema háptico de pulsações e vibrações, na busca por fazer o sujeito sair de processos protegidos, anestesiados, de apreensão do mundo.

A esses procedimentos altamente sensorializados de luiz duVa denominamos aqui tormentas eletrônicas. Trata-se de variados agenciamentos criativos realizados a partir de um conjunto de cinco expedições que o artista fez em 2008, na costa inglesa, em busca de tempestades.

Clique aqui para ler o texto curatorial de Christine Mello na íntegra.

Tormentas

Exposição individual, 2012
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